Fernanda Bastos
FREDY VIEIRA/JC
O presidente estadual do PDT, Romildo Bolzan Júnior, anuncia que a legenda passará por um processo importante de discussão neste ano. O partido irá decidir se apoia o governador Tarso Genro (PT) nas próximas eleições, se lança candidatura própria ou se constrói uma aliança com o PMDB, reeditando o projeto de 2010 que foi encabeçado pelo peemedebista José Fogaça.
Romildo Bolzan Júnior tem a trajetória pessoal e política marcada pela presença do pai
Bolzan ficará encarregado da coordenação do processo, que compreenderá pelo menos 40 discussões em todo o Estado. Ele defende que a decisão da base seja formalizada até o final deste ano, para evitar desgastes com correligionários e com aliados. Nesta entrevista especial ao Jornal do Comércio, Bolzan lista os prós e contras para cada uma das alternativas do PDT para as próximas eleições.
O pedetista também defende que o cenário montado pelo PDT para 2014 será decisivo para o êxito da candidatura própria da legenda em 2018. Para esta disputa, o nome de José Fortunati é dado como certo, mas Bolzan pondera que ele terá de cumprir todas as promessas de campanha para se legitimar diante da população gaúcha. E comenta ainda a sucessão partidária no PDT, marcada para novembro deste ano.
Jornal do Comércio - Como o PDT saiu das eleições?
Romildo Bolzan Júnior - O PDT teve uma melhora no seu desempenho em geral. Teve mais prefeitos e vice-prefeitos, manteve o número de vereadores, conseguiu estabelecer uma situação importante no cenário político estadual. Aumentou de 650 mil para 1,2 milhão o número de votos. Esses votos dão ao partido a segunda votação nominal no Estado enquanto partido político na eleição majoritária. Claro que isso não nos dá o direito ainda de uma legitimidade plena para encarar uma candidatura própria no governo do Estado, a não ser dentro de uma conjuntura muito especial. Mas o PDT se credenciou muito mais. Vai governar 24% dos recursos municipais e ter responsabilidade de gerir um quarto dos orçamentos municipais gerados pelo Estado. Esse dado é extremamente importante, porque se pode fazer disso um emblema político, uma forma de governar trabalhista.
JC - De que forma?
Bolzan - É estratégico, por exemplo, a partir de Porto Alegre, recuperar terreno na Região Metropolitana. Se não tivermos uma inserção muito maior nessa área, não teremos, talvez, um projeto político mais consistente. No Interior, o PDT é muito forte. O trabalhismo no Interior é fortíssimo. Mas na Região Metropolitana, onde já fomos hegemônicos, hoje o partido tem dificuldade de ser uma legenda importante. Porto Alegre pode recuperar esse espaço. Embora nominalmente o PT tenha um prefeito a mais do que nós, somos um partido muito maior do que na eleição municipal de 2008.
JC - Como esse avanço impactará as discussões para 2014?
Bolzan - O ano de 2013 será um ano de amplo debate, com cerca de 40 reuniões regionais. Queremos transformar esse momento de discussão partidária não só numa legitimidade e agregação política, mas também buscar uma forma de fazer um encaminhamento que seja importante para o partido visando à estratégia de 2014 e também mirando 2018. Nesse cenário, um amplo debate interno vai examinar várias perspectivas, como a candidatura própria e os nossos aliados mais fortes nessas eleições municipais, o PMDB, por exemplo. Fomos parceiros em Porto Alegre e também em Caxias do Sul. E temos que examinar a nossa questão no governo do Estado. Afinal de contas, estamos no governo e estamos bem, com três secretarias, desenvolvendo políticas públicas. O partido faz parte da coalizão política na Assembleia e dá respostas a isso. Todos esses aspectos têm de ser pensados. O que o partido tem de fazer nesse processo é manter uma postura de muita ética e lealdade nos padrões que temos hoje nos nossos relacionamentos, de modo que a gente não comprometa a nossa relação com os partidos e que a nossa posição seja estratégica dentro do contexto político que vem pela frente.
JC – O que conta para o partido permanecer no governo?
Bolzan - Primeiro, o desempenho dos nossos secretários. Temos muita satisfação com o desempenho político e administrativo dos três secretários e das direções que ocupamos. Também há uma situação muito consolidada na Assembleia, e a nossa bancada é extremamente leal na coalizão política do governo. Faz os debates e discussões necessários e contribuiu, principalmente, na questão dos pedágios e da EGR (Empresa Gaúcha de Rodovias). Mas claro que o governo tem problemas. Tive uma conversa com o governador recentemente, que foi muito franca na avaliação do quadro regional e nacional. Um governo tem de se tornar perceptível às pessoas, não pode deixar de ser sentido e percebido.
JC - A gestão de Tarso ainda não obteve essa percepção?
Bolzan - O governo ainda está na fase de preparação, de fazer a rotina. Se ficar só na rotina, ele não vai se justificar e não vai passar com alguma marca. Se o governador conseguir mudar a cultura de que o Estado está completamente inoperante e fazer obras que sejam repercutidas na comunidade de maneira positiva, num processo de legitimidade política, ele pode terminar bem o governo, e é essa a expectativa que temos. O sucesso do governo é o sucesso da população gaúcha, queremos participar disso. Mas o governo precisa se justificar melhor, e o mais importante é que o governo sabe disso. E ao saber disso, está procurando tomar atitudes para vencer esse momento.
JC - Esse desempenho pode contar para a consolidação de outra aliança em 2014?
Bolzan - O governador foi muito claro ao dizer que conta com o apoio do PDT em uma provável reeleição. Quer isso, porque entende que o PDT é um partido estratégico no desenvolvimento do projeto político. Essa é uma tendência forte, porque quadros políticos nossos estão no governo e não podemos desconhecer isso. No entanto, o prefeito (Fortunati) fez uma colocação muito mais voltada para a questão local, das críticas que o PT municipal faz a respeito do governo dele - das quais discordamos profundamente -, e que também é uma posição respeitável, e ele vai defender no processo de discussão interna. A nossa visão nesse momento não pode ser voltada apenas para 2014, tem que ser no sentido de chegar bem em 2018, quando também teremos condições de ser competitivos, principalmente a partir da própria candidatura de Fortunati em Porto Alegre. Então, o PDT tem um exercício enorme de como vai passar isso, tem de ter uma capacidade estratégica, de planejamento, de debate interno profícuo de modo que a gente possa estabelecer muito bem as diretrizes para 2014 e chegar bem em 2018.
JC - E qual será a estratégia inicial para 2018?
Bolzan - Temos que deixar as alianças abertas e as conversas muito bem estabelecidas. Não podemos fazer com que o partido seja isolado, para que se possa estabelecer nossa estratégia sem fechar as portas para ninguém.
JC - E o cenário para a candidatura própria, é propício?
Bolzan - Para construir uma candidatura própria, vamos ter de abrir uma discussão com partidos que possam ser nossos aliados, entrar em um debate amplo para ver se essa hipótese surge com maior apoio político. Isoladamente, é muito complicado um partido sustentar uma candidatura ao governo. Mas, como temos essa visão de 2018, seria uma estratégia para vencer essa etapa sem desgaste nos relacionamentos políticos e com as portas abertas. Essa é uma estratégia que o partido vai ter de pesar bastante. A candidatura própria tem apelo interno. A construção dessa visão estratégica, não pode ser um ato emotivo e irracional e nem um ato de soberba política. Pelo contrário, temos que fazer um ato de lucidez política, para chegar mais forte na frente.
JC - Quais seriam os prós em relação à reedição da parceria com o PMDB?
Bolzan - Temos que levar em conta a parceria com o PMDB por duas razões. As duas maiores eleições que o partido fez, em Porto Alegre e Caxias, têm como parceiro o PMDB. Então, não examinar esse cenário seria um ato de insanidade política. Temos que deixar esse processo aberto. Não entramos com preconceitos nem com pré-condições, mas entramos nesse debate com uma condição aberta de viabilizar vitórias. Para nós, passa fundamentalmente por um processo de chegar forte a 2018. O PDT quer ter perspectivas concretas de poder, não somente em 2014, mas também estar presente em 2018. Se tivermos, nessa estratégia, uma perspectiva de poder concreta, isso também será levado em conta.
JC - O PT costuma fazer as indicações para cabeça de chapa. Esse comportamento dificultaria o planejamento a longo prazo?
Bolzan - Chegamos a fazer esse debate com o próprio governador e colocamos para ele que seria muito bom se o PT tivesse essa perspectiva de apoio em 2018. Isso facilitaria qualquer entendimento. Claro que isso passa por uma discussão interna deles, mas colocamos essa pauta na mesa porque ela será importante para nós.
JC - Como o PDT está conduzindo o processo de ascendência de Fortunati como liderança?
Bolzan - Com muito zelo, cuidado e uma visão estratégica de não torná-lo uma candidatura com falhas. Por isso a gente pensa, em primeiro lugar, que ele cumpra o seu mandato. O seu projeto político tem de ser para 2018, e o PDT vê nele uma expectativa concreta, não somente de uma liderança consistente, mas também de um nome com o qual as pessoas possam se identificar para enfrentar uma eleição majoritária grande. O nome tem que ser aceito, respeitado, ter crédito e boa capacidade de interlocução com a população. Fortunati já fez isso em Porto Alegre e pode fazer no Estado. Todos os cuidados têm de ser tomados para que a liderança dele não se perca por detalhe.
JC - O novo mandato em Porto Alegre será decisivo?
Bolzan - A maior meta do prefeito é concluir os processos iniciados e fazer com que eles tenham consequência e visibilidade. Se o prefeito não conseguir encaminhar essas questões concretamente, haverá um vazio político.
JC - Como o senhor analisa a composição para acomodar mais de uma dezena de partidos no governo?
Bolzan - Mostra o desprendimento do prefeito em receber opiniões e partidos que tiveram divergências com ele. É fundamental que mais forças políticas sejam agregadas nesse governo. Mesmo aqueles que ficarem na oposição devem ter capacidade construtiva. Não é fácil compor essas situações políticas, porque existem necessidades de resoluções técnicas e de contemplar os partidos nas candidaturas que acabaram se frustrando. Às vezes, os companheiros não entendem isso, porque acham que pode tirar o espaço daqueles que estiveram na primeira hora. Creio que o prefeito vai conseguir terminar essa fase em janeiro, e com sucesso.
JC – O seu mandato na presidência do PDT se encerra em novembro. Pretende a reeleição?
Bolzan - Não tenho intenção de permanecer. Estou no cargo há cinco anos, e o processo de renovação interna é importante. Mas também não dá pra dizer que está definido. O resultado do nosso debate do ano que vem terá de ser uma decisão de partido, não uma decisão de direção. A próxima direção vai acabar cumprindo esse processo novo e não vai poder alterar aquilo que foi decidido. Vai ter de fazer a condução do processo seja ele qual for. O nosso problema se resume a como vamos fazer a unidade da nossa decisão, porque normalmente quem diverge do processo não cumpre as decisões.
JC - Como conduzirá para não haver acirramento do seu grupo político e o de Juliana Brizola, como no pleito passado?
Bolzan - Vou procurar estabelecer o consenso e manter a unidade. Esses grupos estão na direção partidária. Se depender de mim, faço todos os exercícios possíveis para estabelecer novo consenso, porque o que vem pela frente vai demandar um enorme exercício de junção de forças para o fortalecimento partidário.
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