sábado, 17 de novembro de 2012

Investimentos em energia eólica no RS chegarão a R$ 5 bilhões até 2016



Felipe Prestes
Investimentos anunciados recentemente em geração de energia eólica no Rio Grande do Sul como os R$ 400 milhões da Odebrecht Energia na praia do Cassino não são isolados, nem por acaso. Em seis leilões de energia realizados entre 2009 e 2011, foram vendidos 1.164 megawatts (MW) de energia eólica a ser gerada no Estado, para o que se projeta um total de R$ 4,8 bilhões de investimentos entre 2012 e 2016. Um novo leilão, marcado para dezembro deste ano, pode potencializar ainda mais o setor, que não deve parar de crescer nas próximas décadas.
Hoje, já há parques eólicos em Osório, Tramandaí, Palmares do Sul, no Litoral Norte, e Santana do Livramento, na Região da Campanha, com 390 MW já instalados, o que representa 22% da energia eólica gerada no Brasil (a referência usada para se entender a geração de energia em MW é que cada 150 MW são capazes de abastecer 700 a 750 mil pessoas em consumo residencial). O Litoral Sul será a região a receber os próximos investimentos já contratados, como o já citado, da Odebrecht.
Rio Grande do Sul já tem parques eólicos em Osório, Tramandaí, Palmares do Sul e Santana do Livramento | Foto: Camila Domingues/Palácio Piratini
A empresa recebeu recentemente a licença de instalação e poderá iniciar as obras de construção de sete parques eólicos no município de Rio Grande. A primeira fase do projeto contempla quatro parques eólicos: Corredor do Senandes II, III e IV, e Vento Aragano I, que totalizam 108 MW de capacidade instalada, que devem começar a gerar energia já no final de 2013. Durante a implantação, serão gerados cerca de mil empregos diretos e indiretos com prioridade para contratação de mão de obra local.
A geração de energia traz empregos não só para sua construção, mas também traz a cadeia de fornecedores. “A tendência é atrair os fornecedores para perto de onde há geração de energia eólica porque os equipamentos são muito pesados, o que dificulta a logística”, explica o gerente do Projeto de Expansão da Energia Eólica do Governo do Estado, Eberson Silveira.
O investimento da Odebrecht já ajudou a atrair, por exemplo, a francesa Alstom, que assinou no mês de outubro um protocolo de intenções com o Governo do Estado para fabricar torres eólicas em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre. “As torres necessárias para completar o contrato para o complexo eólico Corredor do Senandes, assinado com a Odebrecht Energia este ano, serão produzidas nessa nova planta. A unidade, devido à sua posição geográfica estratégica, também vai exportar para outros países da América Latina”, afirmou, na ocasião da assinatura, o presidente da Alstom Brasil, Marcos Costa.
A unidade será instalada ao lado da planta do setor Grid da Alstom, já presente em Canoas há mais de 50 anos. A fábrica terá uma capacidade instalada para produção de 120 torres por ano, o que representa em torno de 350 MW. O investimento inicial será de cerca de R$ 30 milhões. A unidade tem início de produção previsto para o primeiro semestre de 2013. Com 11.000 m² de área construída, as instalações vão empregar 90 pessoas, sendo 80% da mão de obra local.
Para Eberton Silveira, da AGDI, energia eólica é diferencial para municípios em regiões deprimidas do RS | Foto: Camila Domingues/Palácio Piratini
Outras fornecedoras de equipamentos para geração de energia eólica também devem se instalar no Rio Grande do Sul, caso da argentina IMPSA. No último final de semana, o vice-governador Beto Grill esteve na Argentina e conversou com a diretora executiva da empresa, Sofia Pescarmona, que reafirmou a decisão de instalar uma fábrica de aerogeradores no Estado. A operação deve ser feita com auxílio do Badesul, que também estava presenta no encontro, por meio de seu diretor de TI, Luis Alberto Bairros, que garantiu que a operação está encaminhada. Além destas empresas estrangeiras, a Intecnial, de Erechim, já atua neste mercado há alguns anos, como subfornecedora, fabricando segmentos para torres eólicas e fornecendo a empresas como a própria IMPSA.
Regiões deprimidas do Estado ganham com os ventos
Além da geração de energia limpa, o potencial do Rio Grande do Sul em energia eólica se torna ainda mais importante porque ele se localiza justamente em algumas das regiões que mais precisam, como o Litoral Sul e a região da Campanha. “É extremamente importante porque além de fortalecer e diversificar a geração de energia no Estado, é um diferencial para os municípios e desenvolve regiões deprimidas. Os ventos no Estado estão em regiões deprimidas”, ressalta Eberson Silveira.
No extremo sul do Brasil, nas cidades vizinhas de Santa Vitória do Palmar e Chuí, um consórcio formado por Pampa Eólica/Renobrax e Eletrosul irá gerar 424 MW de energia eólica a partir de março de 2014. Para atingir essa meta, a instalação deve começar ainda no início de 2013. Os investimentos nos dois complexos giram em torno de R$ 1,5 bilhão. O complexo de Geribatu, em Santa Vitória, terá 10 parques eólicos com um total de 129 aerogeradores e capacidade para produzir 258MW. O Complexo Eólico Chuí, na cidade de mesmo nome, terá seis parques num total de 72 aerogeradores e capacidade instalada de 144 MW. Para a pequena e isolada cidade, conhecida por ser a mais ao sul do país, o empreendimento trará grandes benefícios.
“O município deu isenção de impostos enquanto tiver sendo feita a obra, para que os investimentos viessem para cá, mas a partir de 2016 nossa arrecadação vai quadruplicar. Serão R$ 3 milhões a mais por mês no orçamento para a Prefeitura investir na cidade”, revela o prefeito Hamilton Silverio Lima (DEM). Ele ressalta que só os 25% que obrigatoriamente serão investidos em educação e os 15% na saúde, de acordo com as vinculações constitucionais, já serão importantíssimos, além dos investimentos que se poderá fazer com o restante dos recursos.
Durante a instalação do complexo serão gerados entre 200 e 300 empregos em Chuí. “O impacto é enorme. A cidade tem apenas 6 mil habitantes”, completa o prefeito.
Cidades que sediam parques de energia eólica aumentam oportunidades de emprego também na cadeia de fornecedores | Foto: Camila Domingues/Palácio Piratini
Para a energia eólica não tem crise”
Ex-presidente do Conselho de Administração da Ventos do Sul, empresa que foi pioneira na geração de energia eólica no Rio Grande do Sul, e atual sócio-diretor da Brain Energy Energias Renováveis, Telmo Magadan prevê que a energia eólica vai se manter em crescimento por muito tempo. “O mundo tem hoje um grande desafio: crescimento econômico com energia para sustentá-lo e, ao mesmo tempo, que seja energia limpa”, resume.
Telmo explica que a energia eólica tem ganhado muito espaço entre as energias limpas, porque é uma das que têm tido maior evolução tecnológica. “Há quinze anos atrás, quando falávamos de energia eólica, falávamos em kilowatts. Hoje, falamos de megawatts. Há seis anos atrás, cada torre gerava 2MW, hoje já há tecnologia para que gere 5MW”.
Federasul
Evolução tecnológica faz com que energia eólica ganhe espaço, explica Telmo Magadan: “Há quinze anos atrás, falávamos em kilowatts; hoje, falamos de megawatts” | Foto: Federasul
Um dos desafios da energia gerada pelos ventos é o aumento de seu fator de capacidade. A energia eólica se difere da hidríca, por exemplo, porque esta última uma vez que esteja cheio o reservatório vai gerar o seu máximo possível. A eólica depende da força dos ventos. “A tecnologia para captar cada vez mais energia com a mesma intensidade de vento vem crescendo”, conta Magadan.
Ele estima que hoje o Brasil tem cerca de 110 mil MW de capacidade instalada para produção de energia, em geral, e apenas 2% em operação é energia eólica. Se contasse o volume já contratado, mas não instalado, Magadan crê que a eólica chegaria a 5%. Transmitindo cada vez mais segurança, dependendo menos do humor dos ventos, a energia eólica deve ocupar cada vez mais espaço na matriz energética brasileira. “A energia eólica tem que ir para 15 ou 20% da capacidade instalada do país, à medida em que for ficando mais firme”.
Segundo o executivo, o país precisará de mais 60 mil MW de energia nos próximos 15 anos, levando-se em conta as projeções de crescimento econômico e populacional. E o Brasil não conseguirá explorar novos recursos hídricos por mais que 25 anos. “Não tem crise para a energia eólica. Tem muito espaço para crescer”, diz.
Magadan projeta que o país vá comprar em média 3,5mil MW de energia eólica anualmente nos próximos anos. “O RS importa energia do sistema interligado brasileiros, porque não produz tudo o que consome. Por outro lado, poucos estados têm tanto potencial de ventos”, ressalta.

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