Linha de montagem segue produzindo dezenas de máquinas diariamente.
Reportagem da RBS TV desvendou esquema ilegal no estado.Caça-níqueis apreendidos pela Polícia Civil no RS (Foto: Reprodução/RBS TV)
Da RBS TV
Por mais que a Polícia Civil e o Ministério Público Estadual (MPE) intensifiquem as operações para evitar que os caça-níqueis cheguem aos jogadores, a linha de montagem dos contraventores produz dezenas de máquinas diariamente no Rio Grande do Sul . Até o fim do mês de abril, foram apreendidos mais de 5,5 mil aparelhos. No ano passado, o total de apreensões chegou a 12 mil, principalmente na Região Metropolitana de Porto Alegre . As facilidades da fabricação e da compra são as principais inimigas das autoridades.
Na internet, sites especializados oferecem de tudo para a exploração dos jogos ilegais. Uma loja do Paraguai comercializa botões, placas e adaptadores destinados exclusivamente às máquinas. Até o noteiro, peça que reconhece o valor das cédulas de dinheiro e que deveria ter a venda controlada, entra no Brasil com facilidade.
Durante algumas semanas o combate aos jogos ilegais foi acompanhado pela RBS TV. Em uma abordagem da Polícia Civil, no Bairro Bom Fim, em Porto Alegre, os clientes seguem jogando concentrados na tela da máquina, mesmo com a presença dos policiais. Somente no local, 19 caça-níqueis foram apreendidos.
"As máquinas de caça-níquel de gabinete pequenas estão sendo muito utilizadas agora, pois é muito mais simples e fácil para os contraventores encomendarem por causa do tamanho e pela facilidade de remover, na suspeita de alguma abordagem policial", explica o delegado Thiago Baldin, da Delegacia de Combate a Jogos Ilícitos.
"O que acaba indo é o dinheiro do aluguel, é o dinheiro do leite, é o dinheiro do pão, é o dinheiro da escola. Tudo isso vai lá para essas máquinas. É incrível, é um sofrimento", diz um homem, viciado em jogos, que teve a identidade preservada. "Aqueles movimentos, aquelas luzes, as cores, os bichinhos. Tudo incentiva e meio que ludibria a pessoa a ficar mais tempo ali", completa uma mulher. Os relatos são de um casal que há 3 anos quase se divorciou devido à compulsão por jogos, que atinge cerca de 4% da população.
"O dinheiro para ti não tem valor. Você só vai dar valor quando sai para fora e percebe que você está aniquilado. É que as vezes você não tem nem dinheiro para o ônibus ou táxi. É quando você se dá conta dos males que lhe causou. Em dois anos, eu perdi em tudo, uns R$ 60 mil", conta outra vítima do vício.
A reportagem da RBS TV localizou um homem que é um técnico em caça-níqueis e monta máquinas no interior do estado. Ele já chegou a fabricar e programar mais de 20 em apenas uma tarde. A internet facilitou o trabalho do contraventor. "Você tem condições de botar 40, 50, 60 até 70% do lucro para a casa, entendeu? Só que isso não vale a pena porque queima a casa. Então o que acontece: a gente deixa metade, 50% para a casa e 50% para o jogador", disse o homem, revelando o esquema ilegal.
Para comprovar as facilidades da contravenção e a falta de fiscalização, a RBS TV fez contato com um dos anúncios divulgados na internet. A oferta é de caça-níqueis completas para venda. O homem que atendeu a ligação falou dos valores dos jogos e ofereceu duas máquinas: uma que é chamada de "Halloween" e a outra que recebe o nome de "Era do Gelo". A primeira custa R$ 800 e a segunda R$ 1,3 mil. No dia seguinte, a compra foi efetuada em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos.
Para o promotor do Ministério Público Estadual José Seabra, que combate os jogos ilícitos, a desatualização das leis e a falta de um regimento acabam limitando a fiscalização. "Hoje está muito fácil a acessibilidade a este tipo de material, ao mesmo tempo que as penas seguem aquelas previstas na década de 1940. São penas excessivamente brandas. Acredito que a sociedade deve discutir se o jogo deve ser legalizado ou não", sugere o promotor.
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